Na pandemia, brasileiro paga 20% a mais para financiar casa própria
Em busca de espaços maiores e funcionais, os brasileiros que compraram imóveis durante a pandemia de covid-19 financiaram casas e apartamentos quase 20% mais caros. Dados do Banco Central mostram que, de fevereiro de 2020 a agosto deste ano, o valor do imóvel financiado subiu 18,92%. No mesmo período, a inflação brasileira foi de 9,94%.
O levantamento do BC não revela se os imóveis subiram de preço ou se as pessoas procuraram espaços maiores e mais caros por fatores como home office.
Essa alta dos imóveis acima da inflação é traduzida pela mediana dos valores de garantia de imóveis residenciais financiados (MVG-R), um indicador do BC que funciona como uma espécie de termômetro dos financiamentos no Brasil.
Em fevereiro de 2020, antes da pandemia, a MVG-R estava em R$ 185 mil. Em agosto deste ano, já estava em R$ 220 mil. Isso significa uma alta de 20%.
Como é calculado o indicador?
Ao solicitar o financiamento, uma família informa o valor de compra do imóvel ao banco. Para que a operação seja aprovada, a instituição financeira providencia uma avaliação independente do imóvel, para saber se o preço cobrado pelo vendedor condiz com o mercado.
Isso ocorre porque, no caso de falta de pagamento, o próprio imóvel servirá de garantia ao banco.
Esses valores de avaliação de imóveis nos financiamentos são informados ao BC pelos próprios bancos. Com isso, o BC calcula a mediana do preço do imóvel financiado, considerando unidades em todo o Brasil em determinado período.
Veja as mudanças da MVG-R durante a pandemia:
Fevereiro 2020: R$ 185 mil
Maio 2020: R$ 180 mil
Agosto 2020: R$ 185 mil
Novembro 2020: R$ 200 mil
Fevereiro 2021: R$ 213 mil
Maio 2021: R$ 217 mil
Agosto 2021: R$ 220 mil
Ficou mais caro ou compraram casas maiores?
O avanço da MVG-R não é, necessariamente, uma indicação de que os preços de imóveis subiram durante a crise sanitária. O indicador mostra que se pagou mais, mas isso também acontece quando os consumidores buscam residências de maior padrão.
“Quando você olha para os empréstimos, eles são de maior monta. Você pode entender a partir disso que os clientes estão comprando bens de maior valor”, explica Alberto Ajzental, coordenador do curso de Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Por que imóveis mais caros?
Ajzental explica que o fenômeno está ligado a dois fatores principais.
Primeiro, as condições de financiamento se tornaram mais atrativas durante a pandemia. Segundo, as famílias passaram a buscar espaços maiores.
“Dada a renda familiar, as pessoas puderam comprar um bem mais caro. E, durante a pandemia, elas valorizaram mais a permanência em casa. Passaram a desejar um imóvel maior e melhor”, diz Azental.
Mais espaço para o home office
Esse foi o caso do servidor público Eduardo Rodrigo Just, de Ponta Grossa, no Paraná. Proprietários de uma casa de 50 m², ele e a esposa decidiram se mudar no meio da pandemia, em busca de mais espaço.
“Quando começou a pandemia, lá em março do ano passado, a empresa ofereceu trabalho em home office, por tempo indeterminado. Eu gostei. Mas minha casa era pequena. Com o passar dos meses, ficamos saturados”, afirma. “O quarto de dormir era dividido com o escritório improvisado.”
A solução foi financiar a compra de outra casa, desta vez de 160 m². “O espaço para trabalho ficou maior e consegui montar um pequeno escritório. Também dá para aproveitar melhor a área de lazer”, diz.
Fenômeno mundial
O professor Roy Martelanc, coordenador da pós-graduação em Negócios do Mercado Imobiliário da Fundação Instituto de Administração (FIA), afirma que a busca por imóveis maiores — e muitas vezes, mais caros — está ocorrendo em todo o mundo.
“Tem muita gente migrando para uma casa ou apartamento maior e mais longe. Se a pessoa vai trabalhar apenas um ou dois dias por semana na empresa, em home office parcial, por que não trocar a proximidade por mais metros quadrados?”, destaca Martelac.
UOL Economia